HIV/AIDS – ARRISCANDO-SE NESTA JORNADA A MAIS DE CINQUENTA
ELAINE MALDONADO DE CARVALHO*
TERESA CRISTINA A S F VIANNA**
Resumo
Este artigo apresenta dados estatísticos referentes à HIV/AIDS, em homens e mulheres
a partir dos 50 anos, com foco direcionado para a população do município do RJ. A partir
destes dados, buscou-se uma reflexão crítica, embasada no universo da Psicologia Analítica.
*Psicóloga (UGF), especialista em Psicologia Junguiana e Sexualidade Humana pelo IBMR. RJ. E-mail:
carvalho.maldonado@gmail.com.
**Psicóloga (UERJ) e Assistente Social (UVA), especialista em Psicologia Junguiana e
Sexualidade Humana pelo IBMR. RJ. E-mail: tcrisantos@yahoo.com.br.
HIV/AIDS – ARRISCANDO-SE NESTA JORNADA A MAIS DE CINQUENTA
ELAINE MALDONADO DE CARVALHO*
TERESA CRISTINA A S F VIANNA**
“Mas não devemos esquecer que só bem pouquíssimas pessoas são artistas da vida, e
que a arte de viver é a mais sublime e a mais rara de todas as artes”
(JUNG,O.C,Vol.VIII, par.789).
Dados oficiais mostram que a população idosa no Brasil aumenta a cada ano. Este
segmento já é bastante grande nos dias atuais, o que provoca uma necessidade de
investimento expressivo nesta área. O país em décadas anteriores era considerado uma terra
de jovens, hoje este cenário está em transformação. A administração pública, em todos os
níveis, começa a se preocupar com este quadro; e é neste percurso que a HIV/AIDS se
manifesta. Observam-se campanhas na mídia voltadas para este público, principalmente,
para as mulheres. Propôs-se então a investigar e apresentar os números de homens e
mulheres, a partir de cinqüenta anos, portadores de HIV e AIDS, no município do RJ;
promovendo uma reflexão crítica a partir dos dados coletados. É necessário propiciar um
campo de reflexão para que prazer e saúde estejam conjugados.
Buscou-se num primeiro momento definir e compreender o que é HIV/AIDS.
Pesquisou-se os dados estatísticos. E, finalmente, buscou-se uma relação entre os dados
apresentados com conceitos da Psicologia Analítica
Contextualizando HIV/AIDS nos dias atuais
HIV/AIDS faz parte da história da humanidade, desde a década de 70/ 80 com a
notificação do primeiro caso, o que é bastante recente. Neste percurso, do total
desconhecimento, foi-se confrontando esta doença. Um embate doloroso com muitas perdas
e um profundo preconceito. Esta epidemia foi denominada de „peste gay”ou „cancer gay‟ ao
aparecer os primeiros casos em São Francisco (EUA) no final da década de 70, tendo em
vista, que grande número de indivíduos homossexuais adultos do sexo masculino,
apresentaram sinais desta doença. Em 1983, identificou-se e isolou-se o agente etiológico.
A AIDS é uma sigla da expressão em inglês “Acquired Immune Deficiency
Syndrome” e define um processo viral que ataca o sistema imunológico humano, destruindo
as células de defesa do organismo. Para que haja o contágio não é necessário que a pessoa
esteja com AIDS, basta estar infectado com o vírus e apresentar um comportamento de risco.
Este vírus influenciou de forma decisiva a compreensão e a atitude da sociedade na
questão sexual. A medicina esforça-se para conhecer, compreender e alcançar formas de
lidar com o vírus e com a doença. Não é fácil o trabalho e pode-se dizer que o caminho ainda
é longo. Outro aspecto relevante que pode ser destacado, refere-se à expressão
democratização da AIDS”, ou seja, o que começou restrito a alguns segmentos da
sociedade, hoje está disseminado por todos, indiferente a classe social, etnia,
gênero, nível cultural… É uma epidemia verdadeiramente socializada, acessível a
todos e extremamente devastadora. Segundo algumas estatísticas, desde seu início,
mais de 60 milhões de pessoas já contraíram o HIV no mundo, constituindo-se na
quarta causa de mortalidade nos dias de hoje (Mann et al. , 2003, p.11).
Formas de Transmissão e Tratamento
A Coordenação Nacional de DST/AIDS/MS define quatro principais vias de
transmissão do vírus HIV, a saber: via sexual, via sanguínea, via vertical (mãe para o bebê,
durante a gestação, parto ou aleitamento) e via ocupacional (acidente de trabalho com
material biológico contaminado).
Quanto à via sexual: a Organização Mundial de Saúde (OMS) pontua que,
atualmente, a forma mais frequente de transmissão é a heterossexual nas relações sem o uso
de preservativos.
A CN-DST/AIDS define estratégias de prevenção para cada via de transmissão do
HIV. Os Programas de Controle de Infecção utilizam, por exemplo: o incentivo ao uso do
preservativo; de agulhas e seringas descartáveis ou esterilizadas; um melhor controle do
sangue e hemoderivados; um cuidado adequado às outras DST; entre outros.
Existem vários caminhos de tratamento da AIDS, apesar de ainda não ter sido
encontrada a cura. Um dos fatores mais importantes para o bom andamento do processo é o
diagnóstico precoce; pois, a partir deste, será possível iniciar o tratamento médico,
aumentando as chances de prevenir o surgimento de doenças relacionadas. A ciência
descobriu medicamentos que atuam de formas diferentes sobre o vírus. A terapia
antiretroviral possibilita retardar o aparecimento da AIDS.
Histórico no Brasil
No Brasil, o primeiro caso de AIDS registrou-se em 1980 e São Paulo foi o primeiro
estado a tratar deste assunto, através da Secretaria de Estado de Saúde. Esta demanda partiu
de um grupo de militantes do movimento pelos direitos dos homossexuais. O processo
HIV/AIDS no Brasil passou por diferentes fases no que concerne às políticas públicas. A
epidemia da AIDS é uma realidade que se apresenta em todo o planeta. Habita em todos os
continentes e praticamente em todos os países.
”Em todo o mundo, mais de 75% das infecções entre adultos acontecem
através do relacionamento heterossexual… No Brasil, a categoria de transmissão
predominante, desde o início da epidemia, é a sexual. Porém, somente a partir da
metade da década de 90, a subcategoria de exposição para a infecção pelo HIV passa
a ser a heterossexual”.. (Mann et al, 2003, p.19).
Uma tendência que se apresenta, atualmente, é o aumento de casos de AIDS entre as
mulheres. Vários fatores concorrem para isto, dentre eles: o uso de drogas injetáveis; as altas
taxas de prevalência do HIV entre bissexuais masculinos e heterossexuais usuários de drogas
injetáveis que infectam suas parceiras pela relação heterossexual.
Estatística Atual
O envelhecimento da população é fenômeno observado em todo o planeta. No Brasil
ocorre o mesmo. A população idosa é o segmento que mais cresce atualmente. Segundo
alguns estudos, isto seria resultado da alta fecundidade prevalecente no passado
comparativamente à atual e à redução da mortalidade em idades avançadas.
O Rio de Janeiro, segundo dados da pesquisa do IBGE e Instituto Pereira Passos
(IPP), é a capital que possui a maior proporção de idosos no Brasil, cerca de 13% dos
moradores. As estimativas são de aumento significativo desta parcela da população; no
último período censitário (1991 a 2000) a taxa de crescimento foi de 22%, enquanto o da
população geral foi de apenas 7%. As mulheres predominam entre os idosos, numa
proporção de 60% para 40% de homens.
HIV/AIDS: dados estatísticos gerais
O MS traz dados preocupantes quanto à situação do HIV/AIDS no Brasil. De 1980 a
junho de 2007 foram notificados 474.273 casos de Aids no país, sendo 289.074 na região
sudeste. Ao longo do tempo a razão entre os sexos vem diminuindo de forma progressiva.
Em 1985 havia 15 casos da doença em homens para 1 em mulher. Hoje a relação é 1,5 para
1. Em ambos os sexos a maior parte dos casos se concentra na faixa etária de 25 a 49 anos.
Porém, nos últimos anos tem-se verificado aumento percentual de casos na população
acima de 50 anos em ambos os sexos.
Entre as mulheres, observa-se após 1988, a tendência à estabilidade entre aquelas na
faixa etária de 13 a 24 anos, com crescimento persistente em praticamente todas as outras
faixas etárias. A maior parte de óbitos por Aids identificados no Brasil foi no Sudeste.
Em 2004, uma pesquisa de abrangência nacional estimou que no Brasil cerca de
593.000 pessoas vivem com HIV/AIDS, sendo cerca de 208.000 mulheres e 385.000
homens. Nesta pesquisa citada pelo MS, observa-se que quase 91% da população brasileira
de 15 a 54 anos citou a relação sexual como forma de transmissão do HIV e 94% o uso de
preservativo como forma de prevenção da infecção. O conhecimento é maior entre as
pessoas de 25 a 39 anos, entre os mais escolarizados e entre as pessoas residentes nas
regiões sul e sudeste.
Dados em pessoas com 50 anos ou mais de idade
O primeiro caso notificado de pessoa com 50 anos ou mais de idade ocorreu em
1982. Até junho de 2008 foram identificados 47.437 casos (9%) do total de casos na
população; sendo 34% em mulheres e 66% em homens.
Em homens a partir de 50 anos, de 1990 a 2008, percebe-se aumento da transmissão
heterossexual com estabilização no final do período. Há uma diminuição na subcategoria
homossexual/bissexual. Em mulheres há o predomínio de casos de transmissão
heterossexual em todo o período.
Dados no Município do Rio de Janeiro
Os dados a seguir apresentados foram coletados no 1º Boletim Epidemiológico da
SMS do RJ, 2008, inclui informações sobre a vigilância epidemiológica de Aids. As análises
da SMS foram feitas na população residente – até 2008 havia 33.090 casos notificados em
adultos e 895 crianças.
Os dados da SMS confirmam que houve um aumento crescente na proporção de
casos atribuídos às relações heterossexuais; atualmente, responde por quase 30% dos casos
novos de AIDS.
Em relação às mulheres, a mudança mais significativa relacionada à via de exposição
ao HIV é o aumento crescente no número de casos associados às relações heterossexuais,
atualmente 70% dos casos de AIDS.
Os dados obtidos no RJ sobre HIV/AIDS são bastante reduzidos acerca de pessoas
com 50 anos ou mais de idade.
Dados atuais
A Pesquisa PCAP 2008 (MS) está sendo considerada a maior pesquisa realizada
sobre o comportamento sexual do brasileiro, com 8 mil entrevistas com homens e mulheres
entre 15 a 64 anos. Em relação ao sexo protegido: segundo a pesquisa quase metade da
população (45,7%) faz uso consistente do preservativo com seus parceiros casuais. Homens
usam mais preservativos que as mulheres em todas as situações. Os jovens são os que mais
fazem sexo protegido em relação aos mais velhos.
O índice de uso de preservativo com parceiros fixos é expressivamente menor do que
com parceiros eventuais: homens – 21,5% e mulheres – 17,3%.
A população brasileira possui um elevado índice de conhecimento acerca das formas
de infecção e prevenção da AIDS – mais de 95% sabe que o uso do preservativo é a melhor
maneira de evitar a infecção pelo HIV. 90% dos brasileiros afirmaram saber que a AIDS
ainda não tem cura. Apesar disto, a pesquisa identificou uma tendência de queda no uso do
preservativo.
A pesquisa analisou também o uso do preservativo nas parcerias casuais fora da
relação estável. O uso nessa situação é baixo. 63% não adotaram preservativo em todas as
vezes que fizeram sexo com parceiro eventual. Entre os homens, o índice é de 57% e entre
as mulheres 75%.
O Departamento de DST e AIDS identificou quais são os principais fatores que
impactam a adoção do preservativo, os mais importantes: gênero, acesso gratuito
camisinha, quantidade de parcerias casuais.
Quanto à discussão por sexo: os solteiros têm quase 4 vezes mais chance de usar a
camisinha que os com relações estáveis.
Algumas Reflexões…
Acredita-se que homens e mulheres, muitas vezes, se relacionam com base em crenças
e sentimentos construídos a partir de um contexto cultural e coletivo, no qual a relação
monogâmica pode se tornar uma crença inquestionável.
A cidade do RJ está inserida num cenário onde grande parcela da população
encontra-se vinculada a dogmas do cristianismo, independente do culto religioso que
pratique. Abrir mão de crenças que perpassam inúmeras gerações, torna-se muitas vezes
impossível. A força destes dogmas, presentes na Idade Média ainda são atuais, mesmo após
a década de 60 com o advento da pílula e início de 80 com o surgimento da epidemia
HIV/AIDS.
A população de idosos do RJ, segundo dados acima, é bastante expressiva, o que se
considera relevante para este estudo, já que envelhecer no contexto HIV/AIDS é
consideravelmente preocupante.
Um ponto importante para reflexão refere-se aos conceitos de informação e
conhecimento. Os dados obtidos apontam para uma possível dificuldade na prevenção; apesar
das informações veiculadas pelos órgãos competentes e de mais de 90% da população
conhecer HIV/AIDS, as formas de transmissão, os riscos e como preveni-la. Falta de
informação não ocorre, pode-se então pensar que existem outras causas para a falta de
cuidado com o próprio corpo.
Numa cultura patriarcal, onde a virilidade masculina é uma demanda, um ponto a ser
discutido é a dificuldade na utilização do preservativo neste segmento de indivíduos
maduros, pois considera-se como máxima a ser atingida – ereção, penetração e ejaculação. E
a utilização do preservativo pode vir a influenciar este processo, manter a ereção pode ser
uma dificuldade para muitos homens. Estes valores, muitas vezes, preocupam mais que a
prevenção.
As mulheres têm sido alvo da preocupação do governo, tendo em vista o aumento de
casos observado e a baixa utilização de preservativos com seus companheiros. Várias
questões podem ser levantadas – o que levaria estas mulheres à não praticar um sexo seguro?
A mulher confia, cegamente, em seus parceiros? Isto estaria relacionado à submissão secular
da mulher ao homem nesta cultura patriarcal? Há uma falta de cuidado com o seu próprio
corpo? É uma forma de sedução?
O discurso da confiança é bastante utilizado pelos casais que não usam o preservativo.
Supõe-se uma relação fiel, no qual o parceiro mantém um pacto de monogamia, acreditandose
nisto como uma verdade. E rever crenças estabelecidas em um contexto cultural/coletivo
requer confrontar não apenas verdades ou falsas crenças, mas “colocar em dúvida” os
indivíduos com os quais se mantém uma relação mais próxima. Estabelece-se na relação que
há entre os dois, uma fé incondicional de que nada vai acontecer, porém, esta confiança não
garante a tão sonhada segurança. O cuidado com o corpo é fundamental para a integridade do
indivíduo.
Para Jung…
Jung representa um dos grandes marcos na história da Psicologia. Estudioso da
Mitologia, Alquimia, Filosofia, além de outras ciências; embasa vários aspectos do
conhecimento sobre o ser humano e seu psiquismo. Falar de Psicologia Junguiana é antes de
tudo falar na Totalidade.
Jung estabeleceu que o processo de individuação é um caminho difícil a se trilhar, é
preciso criar os seus próprios valores, modificar-se. Jung comenta, por vezes, a importância
da atitude na vida; assim, é necessário uma idéia, essência, opinião, ação, transformação.
Toda a energia procede de pólos opostos. O processo de individuação, proposto por Jung,
refere-se a uma trajetória pessoal desde o nascimento, ao encontro de si mesmo, ou seja, a
“tendência instintiva a realizar plenamente potencialidades inatas” (Silveira, 1990, p.88).
Muitas vezes, é na segunda metade da vida, que o indivíduo pode entrar em contato
com questões mais pessoais, tendo em vista que na primeira fase, estiveram em relevo as
buscas/ conquistas exteriores, como: profissionais, acadêmicas, materiais…
Neste processo, considera-se relevante os componentes/conteúdos do inconsciente
coletivo, que agem no inconsciente pessoal. As imagens surgem nos contos de fadas, mitos,
no opus alquímico, nos sonhos, enfim, nas produções do inconsciente.
O conceito de individuação foi pensado e discutido por inúmeros filósofos e
estudiosos, possuindo, assim, uma longa história e estando presente na obra de diversos
autores; este termo, geralmente, é utilizado ao se referir à diferenciação de entidades
individuais a partir do geral ou universal.
Ao longo da vida, o homem se desenvolve em múltiplos aspectos, passando por
diferentes fases e significativas mudanças. E, para Jung, individuação seria a oportunidade
dada ao homem de poder encontrar o significado desta vida.
Ao processo de uma vida inteira, integral, onde ocorre o surgimento do “Si-mesmo”
na estrutura psicológica e na consciência, Jung denominou individuação. A individuação se
refere, portanto, ao processo gerador de um “individuum psicológico”, ou seja, “uma unidade
indivisível”, um “todo”.
Dentro da psicologia analítica o estudo dos mitos torna-se essencial para o
entendimento dos processos inconscientes do indivíduo. Os mitos são representações
simbólicas de vivências internas de todo ser humano. Através da criação de mitos o homem
expõe imagens arquetípicas e o próprio processo de individuação; por isso temas idênticos são
encontrados em diversas épocas e culturas.
“Segundo Jung “os mitos são principalmente fenômenos psíquicos que
revelam a própria natureza da psique”. Resultam da tendência incoercível do
inconsciente para projetar as ocorrências internas, que se desdobram invisivelmente
no seu íntimo, sobre os fenômenos do mundo exterior, traduzindo as imagens”
(Silveira, 1990, p.128).
Para os mitólogos modernos o mito representa expressões de formas de vida,
estruturas de existência, modelos que permitem ao homem inserir-se na realidade. Assim “os
mitos condensam experiências vividas repetidamente durante milênios, experiências típicas
pelas quais passaram (e ainda passam) os humanos” (Silveira, 1990, p.129).
A partir deste conhecimento, do estudo do processo de individuação, de conteúdos
inconscientes e da influência dos mitos no psiquismo humano, procurou-se compreender e
embasar a reflexão acerca do cenário onde se observa um aumento significativo de contágio
do vírus HIV em homens e mulheres, a partir dos 50 anos.
Pensar estes homens e mulheres numa fase da vida onde poderiam estar voltados para
questões de ordem mais reflexiva, de autoconhecimento… o que se observa é um descuido
com o seu próprio corpo, onde a falta de prevenção é um dos aspectos desta realidade.
Segundo Jung, “… para o homem que envelhece é um dever e uma necessidade dedicar
atenção séria ao seu próprio Si-mesmo” (Jung, O.C, Vol. VIII par.785).
“O pior de tudo é que pessoas inteligentes e cultas vivem sua vida sem conhecerem
a possibilidade de tais mudanças. Entram inteiramente despreparadas na segunda
metade de suas vidas” (Jung, O.C, Vol. VIII, par.784)
Segundo os dados das pesquisas acima, atualmente observa-se um aumento
significativo no contágio de HIV em homens e mulheres nesta fase da vida, de todas as
classes sociais, culturais e econômicas. Sabe-se que a informação existe, é veiculada pelos
órgãos competentes e que os dados indicam que as pessoas conhecem as formas de contágio e
prevenção. Daí pode-se inferir outras causas para este fenômeno.
Escolheu-se como caminho de reflexão os mitos e sua influência no psiquismo e
comportamento humano, assim, chegou-se a Hipno e Tânatos.
Nix, a Noite, considerada uma grande divindade, nasceu do Caos no primeiro
momento do universo; e sozinha, deu à luz a alguns filhos, dentre os quais: Tânatos (Morte) e
Hipno (Sono).
Hipno (Sono), irmão gêmeo de Tânatos, alado, percorre rapidamente o mundo e
adormece todos os seres, aquientando-os.
Tânatos (Morte) que tinha coração de ferro e entranhas de bronze, é o gênio masculino
alado que personifica a Morte, mas não é agente da mesma tem como um dos sentidos o
“dissipar-se, extinguir-se”. O sentido de “morrer” é uma inovação do grego. O morrer, no
caso, significa ocultar-se, ser como sombra (Brandão, 2002).
“Do ponto de vista simbólico, Tânatos é o aspecto perecível e destruidor da
vida… Quando se abate sobre um ser, se este orientou sua vida apenas num sentido
material, animalesco, a Morte o lançará nas trevas. Se, pelo contrário, deixou-se
guiar pela bússola do espírito, ela mesma lhe abrirá as cortinas que conduzem ao
campo da luz (Brandão, 2002, p.228).
Tânatos representa o impulso urgente e inconsciente de morrer. Para a Psicanálise,
Tânatos é a personificação mítica da pulsão de morte, um impulso instintivo e inconsciente
que busca a morte e/ou destruição.
Os indivíduos sabem, tem a informação acerca da transmissão do vírus HIV/AIDS;
porém o ato é dissociado, ou seja, agem como se estivessem adormecidos, ignoram o que
sabem, não se previnem. Algumas questões podem ser levantadas: existe uma fantasia de
que nada vai lhes acontecer? A confiança no parceiro é “cega”, ou seja, acredita-se numa
segurança total na relação? O que é certo é que o contágio nesta faixa etária tem aumento
significativamente.
A princípio pode-se pensar em dois caminhos: um é de que o indivíduo confia,
acredita estar em segurança, daí não precisar se prevenir. Assim, apesar de estar lúcido,
informado, é como se estivesse adormecido, onde pode-se pensar em Hipno atuando.
Outro caminho possível é o do risco, da auto-destruição, do escolher se arriscar.
Tânatos como o impulso de “dissipar-se, extinguir-se” pode estar constelado no
comportamento destes indivíduos, à medida que ignorando os riscos que correm, não se
previnem.
Conclusão
A partir de pesquisas na área da sexualidade, com foco na questão do HIV/AIDS,
observou-se uma lacuna acerca da informação da população sobre o assunto e o
comportamento destes, na dificuldade de prevenção. Pensando sobre as variáveis que
estariam influenciando este comportamento, chegou-se a um caminho onde o processo de
individuação e os mitos poderiam ser trabalhados.
Este assunto é bastante relevante para a saúde da população e, torna-se necessário
que a Psicologia, como ciência, possa participar desta discussão. Após pesquisas sobre o
tema, verificou-se a escassez de trabalhos nesta área. Deste modo, o presente estudo não teve
como objetivo aprofundar esta questão, mas abrir a discussão.
Referências
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IBGE.CensosDemográficos.IBGE.Disponívelem:http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/default_c
enso2000.shtm.Acesso:30/03/2009.
INSTITUTO MUNICIPAL DE URBANISMO PEREIRA PASSOS; Dig-Diretoria de Informações
Geográficas. Idosos – um perfil estatístico da Terceira Idade na cidade do Rio de Janeiro. Coleção Estudos da
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JUNG. C.G. Obras Completas. Vol VIII. A Dinâmica do Inconsciente. Ed. Vozes. RJ, 1998.
MANN, C. G., OLIVEIRA,S.B. & OLIVEIRA, C.S.S. Guia para Profissionais de Saúde Mental/ Sexualidade
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Acesso em 27/06/2009
SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra. 12ªed.Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1990.
*Psicóloga (UGF), especialista em Psicologia Junguiana e Sexualidade Humana pelo IBMR. RJ. E-mail:
carvalho.maldonado@gmail.com.
**Psicóloga (UERJ) e Assistente Social (UVA), especialista em Psicologia Junguiana e Sexualidade