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A chegada e difusão da Psicologia Analítica, assim denominada por Carl Gustav Jung a respeito de seus conceitos e método de trabalho, se deram por meio de três importantes pioneiros, os médicos Nise da Silveira e Pethö Sándor, e o psicólogo Leon Bonaventure.

Nise da Silveira estudou medicina de 1926 a 1933, incluindo sua especialização em psiquiatria. Seus primeiros anos de profissão se deram no Hospital da Praia Vermelha, Rio de Janeiro. Lá se recusou terminantemente a participar dos tratamentos psiquiátricos da época, como eletrochoques, choques insulínicos e lobotomia. Ao mesmo tempo, estudava sobre métodos inovadores de tratamento, envolvendo-se com as artes, a filosofia e os cuidados humanos. Por isso foi afastada do corpo médico principal, sendo vista como rebelde e desprovida de conhecimento da “verdadeira psiquiatria”.

Após ter sido presa sob acusação de comunismo pelo governo Vargas, de 1936 a 1944, Nise foi anistiada e passou a trabalhar no Hospital Pedro II, no Engenho de Dentro. Lá, ficou encarregada da seção de Terapia Ocupacional e passou a utilizar técnicas expressivas no tratamento dos internos. A Seção de Terapêutica Ocupacional, como foi posteriormente chamada, foi fundada por Nise em 1946 e o Museu de Imagens do Inconsciente, em 1952.
Em 1954, Nise enviou a Jung uma carta com imagens das pinturas destes internos e Jung ficou extremamente interessado, incentivando-a a participar, através do Museu de Imagens do Inconsciente, do Congresso Internacional de Psiquiatria em Zurique, no ano de 1957. Neste encontro, Jung mostrou a importância de estudar os mitos e outras produções do inconsciente à Dra. Nise. Posteriormente, nos períodos de 1957-58 e 1961-62, Nise estudou no Instituto Jung em Zurique.

Em 1956 a Dra. Nise fundou a Casa das Palmeiras, com o objetivo de acolher os pacientes que saíam do hospital psiquiátrico, oferecendo a eles um ambiente de transição para a vida em sociedade com oficinas expressivas e os cuidados de uma equipe esmerada em fazer do espaço uma verdadeira casa.
Nise da Silveira utilizou métodos de tratamento revolucionários para a época, como o tratamento através das técnicas expressivas e a mediação com animais, chamados de coterapeutas. A Terapêutica Ocupacional de Nise da Silveira buscou em primeiro lugar a humanidade do paciente e a relação afetiva entre os profissionais e os internos, a que chamou de “Emoção de Lidar”.
As ideias e práticas de Jung influenciaram o tratamento da Dra. Nise com os internos nestes pontos principais de seu método, tais como o uso da expressão pelas imagens, a escuta amorosa do paciente para compreender sua história, o estudo dos mitos para adentrar o universo dos pacientes e o entendimento de que o corpo poderia servir de veículo expressivo quando a palavra não era possível, ou seja, o uso das mãos para pintar, esculpir, etc.

Por sua importância para a saúde mental no Brasil, Nise da Silveira teve seu nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília, Distrito Federal, através da Lei nº 11.597, de autoria da deputada Jandira Feghali.
Pethö Sándor foi um médico obstetra e neurologista de família húngara. Durante a Segunda Guerra Mundial, a família de Sándor precisou fugir para um campo de refugiados, onde ele trabalhou como médico da Cruz Vermelha. Nesta época seu trabalho era dirigido a pessoas com membros amputados por ferimentos de guerra e congelamento, no pós-operatório, abrangendo desde membros fantasmas e abalamento nervoso, até depressões e reações compulsivas, para proporcionar alívio físico e psíquico.

Surgia assim a ideia inicial da Calatonia, que visava o relaxamento destas pessoas para que tivessem este alívio. Este método permite a expressão dos conteúdos emocionais, orientando-se pela psicologia junguiana.
O Dr. Sándor veio para o Brasil em 1949, fugindo da guerra, quando perdeu seus pais e sua esposa, ficando com dois filhos pequenos. Estabeleceu-se em São Paulo e passou a usar seu método para os atendimentos em consultório. Tornou-se posteriormente professor da PUC de São Paulo, ensinando Calatonia e psicologia junguiana a psicólogos, médicos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e fisioterapeutas.

Em 1974, Sándor publicou seu livro “Técnicas de Relaxamento”, onde expõe o Método Calatônico, que possui como referencial teórico a Psicologia Analítica de Jung, estabelecendo a interdependência do psiquismo e do corpo como um princípio teórico básico.
Além das aulas e de seu livro, o Dr. Sándor traduziu obras de Jung que não estavam disponíveis em português na época e foi um grande divulgador dos conceitos junguianos.

Léon Bonaventure, de nacionalidade belga, foi padre, é doutor em Psicologia, membro da Sociedade Internacional de Psicologia Analítica, formado pela École Pratique des Hautes Études, Paris, e pelo Instituto de Filosofia e Psicologia de Louvein, onde esteve no final dos anos cinquenta, quando já havia deixado o sacerdócio. Pouco depois esteve em Zurique, no Instituto C. G. Jung, indo em seguida para a França fazer seu doutorado na Sorbonne. Lá conheceu Jette Ronning, dinamarquesa cujos pais moravam no Brasil, onde tinham uma empresa farmacêutica. Casaram-se e vieram morar no Brasil em 1967. Durante o tempo de escala no Rio de Janeiro, Léon conheceu pessoalmente Nise da Silveira.
Léon Bonaventure iniciou sua carreira profissional como analista junguiano em São Paulo, dando palestras no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e na PUC – SP. Contribuiu significativamente para a divulgação da Psicologia Analítica em seu novo país, sendo responsável pelo lançamento do terceiro livro de Jung traduzido para o português, Fundamentos da Psicologia Analítica em 1972.

Essa publicação daria início à tradução, no Brasil, dos dezoito volumes das Obras Completas de Jung, pela Editora Vozes, sob responsabilidade da comissão formada por Bonaventure, Leonardo Boff, Dora Mariana Ribeiro, Ferreira da Silva e Jette Bonaventure. Em 1975, Léon coordenou a organização das comemorações do centenário do nascimento de Jung, em São Paulo, patrocinado, entre outros, pelo Consulado Geral da Suíça em São Paulo. Esse evento representou um marco importante para a Psicologia Analítica no Brasil, pois congregou pela primeira vez diversos brasileiros que vinham se dedicando aos estudos da obra de Jung.

Fontes:
www.ccms.saude.gov.br/nisedasilveira/uma-psiquiatra-rebelde.php
www.museudeimagensdoinconsciente.org.br
www.casadaspalmeiras.blogspot.com
www.calatonia.org
www.khalao.com.br
www.ajb.org.br
www.psicologiasandplay.com.br

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